segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Fragille Bird

Frágil.
Como um pássaro que caiu do ninho.
Perdido.
A Terra é dura e inefável,
ao contrário do ninho.
Agora que a vida começou,
Agora que a redoma que me protegia
foi quebrada.
A vida mal começou
e já está a me alfinetar:
Aquele sonho que vivias acabou.
Acorda!

domingo, 21 de agosto de 2011

Legado perdido.

Em um dia de férias do trabalho, ele tirou a tarde para si, parou em um buteco em Botafogo e comprou uma cerveja. Em frente ao bar havia um campo de futebol, onde crianças jogavam, crianças de no máximo 7 anos. A idade de seu filho, ou pelo menos, que seu filho teria. Ele observava as crianças, vendo-as felizes com uma bola nos pés, correndo de um lado pro outro: o jogo ainda não havia começado.
Será que seu filho era um deles? Será que um dia saberia como ele é? Ele teria os olhos verde-mel da mãe ou cinza como o seu? Cabelos escuros como a noite ou castanhos claros herdados dele? E se ele fosse parecido apenas com a mãe? Ele considerava cada hipótese. Nesses sete anos ele pensava todos os dias sobre a aparência dele, sobre seu temperamento, seus gostos... Queria ter algo a que se segurar, alguma imagem, informação...
Mas não. Ele não tinha nada. Ele era o gerente de um ótimo banco, um emprego perfeito. Um homem bem-sucedido e triste. Como muitos e muitos outros. Fechado, mal falava com os colegas sobre si. Era um homem engraçado, todos o adoravam, mas ninguém o conhecia. Ninguém sabia que o amor da sua vida sumiu, grávida de seu filho há sete anos atrás. Que ela simplesmente desapareceu, sem deixar um bilhete, sem nenhum vestígio.
E ele estava procurando esse vestígio até aquele dia, do barzinho, dos meninos jogando futebol... E observando aquelas crianças, ansiando por um deles ser seu filho e ao sair do treino chegará para abraçá-lo e  contará como foi seu dia. Mas isso não acontece, nenhum deles é seu filho. Ele não tem um filho.

Where I'd like to be.

Bom, eu nunca posto textos curtos, mas acho que seria legal começar... Colocar só uns drops, já que estou sem tempo pra escrever de verdade, e sem tempo pra desenvolver ideias pra isso...
Sinto saudades desse dia, da sensação de liberdade que dá sentir o vento no rosto ao galopar, passeando por um cenário digno de pertencer ao "O Senhor dos Anéis", esquecer um pouco dos problemas da vida de vestibulanda, esquecer de problemas em geral... Só sentir o balanço do cavalo, conversar com seus amigos durante a viagem, rir, aproveitar a paisagem verde que raramente vejo agora...
É o preço que pagamos por escolher viver na cidade. Embora eu viva aqui, é no mato que meu coração está, e sei que é pra lá que posso ir quando quiser. Seja para descansar, para esquecer, ou para lembrar. É sempre lá que eu quero estar.

-Lita

domingo, 14 de agosto de 2011

Música




Morava numa cidade pequena, numa rua sossegada, numa casa bem grande. Mas dizer que morava soa até engraçado, dizer que morava dá ideia de lar, coisa que aquele casarão nunca fora. Era mesmo um lugar onde o menino aprendera a viver, sua mãe trabalhava ali desde que se sabia gente. E o menino ficava a seu lado, não porque quisesse, sua mãe o amava a sua maneira, calada e carrancuda, maneira de amar essa que o fizera chorar muitas vezes quando criança. Hoje porém o menino já era rapaz, praticamente homem feito e essa maneira de amar, as avessas, só trazia desprezo. Ficava alí porque precisava, porque não tinha pra onde ir, não tinha porque ir. Muitas vezes pensou em ir embora, mas faltava coragem, ou talvez faltasse vontade... a bem da verdade seu motivo era mais que uma falta, era mesmo uma presença, aquela tal música. Às vezes um piano, outras um trompete ou talvez uma flauta.Era uma música que vinha ele não sabia da onde, só sabia que às vezes, no fim da tarde enquanto cuidava do jardim ou varria alguma calçada, ela vinha descendo, lá do alto da rua e lhe chegava aos ouvidos. Aquela melodia. Trazia cheiros, imagens e o rapaz sentia saudade de um passado que não vivera.
Depois ia embora, levava com ela aquele mundo, aquela vida saudosa e sem identidade que só a música parecia conhecer. E o rapaz continuava o seu trabalho, e se trancava novamente em sua revolta, em sua raiva do destino que o fizera um empregado, praticamente mordomo, sem direito de falar ou querer, com raiva de sua mãe, que seguia submissa, e das pessoas que pareciam não notá-lo. Observava-as passarem na rua, elegantes, cheias de si, rumo aos seus casarões, sempre nariz empinado.
E havia aquele homem, sempre aquele homem, que passava de preto carregando seus papéis com ar de importância. O rapaz não sabia o que era, mas alguma coisa na insignificância com a qual aquele homem olhava para ele o incomodava em especial. As dores pesavam, as angustias e revoltas se acumulavam e ele tinha vontade de fugir, não importava pra onde, fugir dalí, daquele lugar, daquela vida, daquele destino... mas logo a tarde caia e a música chegava, serena, parecendo adivinhar suas dores. Calava sua lamurias, secava suas lagrimas, tirava-lhe o peso e ia embora. E como que com as baterias recarregadas ele continuava seguindo, apenas esperando, esperando que voltasse sua música.
Mas naquele dia ela não voltou. Naquele dia, como que por luto, o céu amanheceu cinza e as flores, pálidas. O que os olhos do rapaz viram o coração não comportou. Sua mãe, jogada no chão, olhar vazio e conformado, uma única lágrima rebelde contornando-lhe o rosto. E o patrão, apressado e desajeitado fechando as calças e arrumando os cabelos. Saiu e sequer olhou para trás.
O rapaz correu, sangue nos olhos, o facão que usava contra as ervas daninhas do jardim ainda na mão. Não foi ajudar a mãe, nem tampouco se vingar do patrão. Correu para rua, sem rumo, para longe, longe daquele lugar ao qual nunca pertenceu, onde ficou tanto tempo com medo de não pertencer a lugar nenhum, correu sem destino. Correu e trombou. Trombou com um homem. Não um homem, aquele homem, que passava de preto, sempre o mesmo olhar de insignificância, cruzando a rua como se não pertencesse ao mundo e nem se importasse com ele. O rapaz não pensou, tomado pela raiva e pela dor, apenas agiu, apertou o facão com as mão trêmulas e matou. Matou aquele homem... matou aquele olhar.... matou aquele ar de importância. E talvez o rapaz nunca soubesse que naquele momento de ódio e rancor, sem sequer suspeitar, matou seu consolo. Matou sua música.