sexta-feira, 18 de maio de 2012

Heroísmo técnico.

Ainda que o Sol brilhasse forte, um vento cortante fustigava meus cabelos enquanto minha moto dobrava esquinas e descia ruas. Meus olhos percorriam as placas, e eu já estava impaciente. O tal endereço parecia não chegar nunca!

Finalmente, avistei uma charmosa placa de madeira, que indicava o início da Alameda das Begônias. Árvores floridas enfeitavam as calçadas retilíneas, e até os paralelepípedos da rua tinham um aspecto de limpos e bem cuidados. As residências eram suntuosas e belas, mas pareciam me fitar com desdém e prepotência. Passei por uma praça cuidadosamente arquitetada, com canteiros de flores, um anjo-chafariz e um parquinho colorido, onde crianças rechonchudas e saudáveis eram paparicadas por babás meigas e bem-vestidas. Não pude deixar de analisar o quão contrastante aquilo era com a minha realidade. No meu bairro, raras eram as casas pintadas e escassos os muros não pixados. As crianças corriam catarrentas e sujas e a única vegetação era o mato por entre os buracos do calçamento.
Segui a Rua Girassol e virei à esquina desta com a Rua Gerânio, chegando enfim ao meu destino. Tirei o capacete e saí da moto. Um nº 55 dourado e maciço reluzia sobre o muro revestido de pedras acinzentadas. Através das grades do portão (também douradas, maciças e reluzentes), avistei um extenso e exótico jardim. Flores de todas as cores estavam meticulosamente organizadas em espirais e mandalas.
Após a minha identificação no interfone, o portão se abriu e eu entrei naquele pequeno universo perfeccionista. Segui o caminho circundado por pedrinhas brancas e tentei não me intimidar com a enorme casa no final deste. Embora rústica, mostrava indícios de alta tecnologia, o que me trazia a sensação de um pequeno castelo do século XXI.
A porta foi aberta, e fui surpreendido por quem só podia ser a princesa daquele reinado. Demorei alguns segundos para assimilar aquela composição, que embora padrão, era de uma beleza arrebatadora: o vestidinho cor-de-pêssego combinava com suas unhas e realçava a pele alva; o cabelo louro platinado caia em cascatas sobre seus ombros, e seus olhos verdes sorriam, juntamente com seus lábios rosados e cheios de gloss. Quando ela falou, a sua voz melodiosa percorreu meu corpo inteiro, dando-me um frio na barriga e contraindo as minhas entranhas. Meu cérebro foi invadido por aquelas palavras e só conseguia ecoar a frase da doce menina-mulher:

-Você pode me salvar?

É claro que eu poderia! Por ela, mataria qualquer dragão, enfrentaria qualquer feiticeira, desbravaria qualquer selva de espinhos!
Então, minha mente reassumiu o controle. Eu não era o herói plebeu e nem ela a princesa em perigo. Nossa relação se resumia em dois fatos: eu era o técnico da internet, e ela, uma patricinha urbanóide.



Hara Flaeschen, São-Lourenço, 17 de maio de 2012

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Chuva, bolhas e cappuccino


Era um dia frio. O verão tinha partido completamente, e o inverno, desrespeitando a presença do outono, já demonstrava seus primeiros indícios. Contrastando com a paisagem cinza e monótona, os pedestres iam e vinham pelas ruas, usando roupas coloridas e felpudas. Eu andava, sem rumo, apenas porque não queria ficar em casa. Sentei em um banco de praça e comecei a exercer meu passatempo favorito: observar as pessoas. Um casal adolescente passeava de mãos dadas, e eu quase pude ver a bolha que os isolava do resto do mundo. Senti uma pontinha de inveja... Há muito eu não me apaixonava! Ignorando os pensamentos desagradáveis, comecei a escrever mentalmente uma história para a jovem ruiva elegante e para o rapaz de olhos verdes, que usava óculos. Eles se casariam, ela seria professora de ballet e ele engenheiro químico. Teriam dois filhos...
Repentinamente, uma gota d’água gorda e gelada interrompe meus devaneios. Começara a chover. Os jovens enamorados, sem nem imaginarem que preencheram a mente de um estranho por alguns minutos, correram a fim de se protegerem da chuva, e eu tomei a mesma decisão. As pessoas de roupas coloridas abriam guarda-chuvas berrantes, em uma tentativa de quebrar a melancolia que caía do céu. Corri para dentro de um café e sentei em uma mesinha aconchegante.  Pedi à garçonete sorridente um cappuccino com chantilly e uma tortinha de chocolate, e percebi que ela me fitava com certo interesse. Eu já estava acostumado com o assédio feminino, embora não o compreendesse. O que as mulheres achavam de tão interessante em um brutamonte de 1,90 m com espessa barba e revoltos cabelos loiros?  Talvez elas gostassem da suavidade de meus olhos azuis, que se diferenciavam completamente de todo o resto.  Enquanto esperava o cappuccino, resolvi continuar a observar as pessoas, dessa vez mais detalhadamente. Um senhor rabugento, que escondia a volumosa barriga por trás de um suéter de lã, reclamava com a garçonete a demora de seu pedido, enquanto sua esposa passava um batom vermelho combinando com seus brincos exagerados (que, aliás, estavam horríveis com aquele blazer cáqui). Comecei a rir discretamente. Aqueles dois provavelmente não se aguentavam mais, mas não sabiam viver um sem o outro. Eles se completavam.
A porta do café se abriu, e uma rajada de vento gelado entrou.  Uma confusão de aromas invadiu o recinto: uma mistura agradável de perfume feminino, cremes e alguma coisa que lembrava um banho de banheira. Distraidamente levantei os olhos para ver quem era a causadora daquele delicioso caos olfativo. Uma jovem mulher, de cabelos escuros e pele cor-de-jambo, fechava seu guarda- chuva florido. Rapidamente, meus olhos analisaram o bom gosto de suas botas verde-escuro e de seu sobretudo vermelho, acompanhado de um cachecol arco-íris. Foi então que seus olhos pescaram meu olhar. E quando eu digo “pescaram”, é porque não consegui desviar meus olhos azuis daqueles intensos olhos achocolatados.
Aquela desconhecida, que era simultaneamente uma explosão de beleza, cores e aromas, em segundos me fez querer estar na bolha dos adolescentes apaixonados e no companheirismo dos velhinhos engraçados. Senti que ela poderia despertar em mim o que quisesse. Poderia ser minha desgraça e minha salvação. Então ela sorriu, e até o tempo parou para olhar imagem tão bela. Ainda sorrindo, caminhou em minha direção e sentou-se em minha mesa. Ela optara por me salvar.

22 de Abril de 2012, Solar dos Lagos, São Lourenço, MG – Hara Flaeschen 

domingo, 18 de março de 2012

Cores


Aparentemente não tinha nada de extraordinário, não parecia merecer destaque, não parecia ser diferente e nem parecia ser importante pra que alguém contasse sua história.
Era um menino normal. Gostava de catar minhocas e de soltar pipa. Não gostava de matemática, nem de jiló e nem de coisas azedas. Às vezes faltava aula e ficava jogando futebol na rua. Gostava muito de maria mole e mais ainda da Maria, meninasinha risonha, filha do padeiro.
Mas tinha uma mania engraçada, mania que era mais do que gostar e era melhor do que todas as coisas. Era melhor do que limonada, melhor do que maria mole e a Maria juntas. Era uma mania danada de observar. Observava as pessoas, as paisagens, as minhocas e o moço que passava à tardinha com aquela máquina de fazer pipoca. Mas não eram bem as pessoas, não eram bem as paisagens, não eram bem as minhocas ou as pipocas. Eram as cores. Ele observava as cores. Todas elas. E é bem aí que a gente tem vontade de contar sua história. Tem vontade de falar dele. Porque ele tinha olhinhos de pintor. Se sentia eufórico a cada tonalidade, a cada nova cor. Não observava e nem achava bonito apenas o começo ou o fim do dia quando as cores se fundem em milhares de tonalidades inebriantes. Gostava de observar o branco da pipoca sendo coberto pelo amarelo amarronzado do caldo de cana, e o branco de farinha na cara da Maria que era toda pretinha. Adorava quando a noite ia chegando e o céu ficava quase lilás com uma estrela brilhando sozinha entre as nuvens. Se deliciava quando chegava seu aniversário e a mãe preparava pra ele um bolo de fubá amarelinho coberto de coco branco e colocava bem no meio uma flor rosada do quintal. Às vezes, e torcia para que sua mãe jamais soubesse, cobria a mão de barro e prensava com força na parede branquinha do fundo de casa. E ficava observando o marrom e o branco... e o verde da grama, e o preto do gato, e o azul do céu e o cinza do muro com o violeta da flor.
Estava convencido de que existia um pintor muito caprichoso que combinava todas aquelas cores, e jamais errava nos tons, jamais misturava cores descombinantes. E punha tudo alí, só pra gente olhar e achar bonito.
Um dia o menino dos olhinhos de pintor conheceu um moço muito curioso. Era um moço que não via cores. Contou pro menino que tinha experimentado alguns jilós e coisas azedas pela vida e que agora tudo era cinzento.
O menino foi embora cabisbaixo. Esperou a noite chegar e deitou. Mas não dormiu. Ficou pensando no homem que não via cores. Decidiu que aquilo estava muito errado e resolveu mostrar ao homem algumas coisas.
Mostrou-lhe a pipoca e o melado. Mostrou-lhe o amanhecer, o anoitecer e o entardecer. Mostrou-lhe as flores e o muro e o gato e o bolo de fubá. Foi chamando a atenção do homem a cada nova tonalidade. Por último mostrou-lhe o mais bonito. A Maria. Brincava sentada no chão do lado do padeiro. Toda pretinha com a cara suja de branco, e ao lado, como que por obra do pintor misterioso, uma maçã, uma maçã bem vermelha.
O menino sentou o homem, e falou pra ele, bem baixinho, de pé de ouvido. Falou sobre o pintor. Contou que ele era muito cuidadoso e que pintava tudo aquilo pra que a gente visse, pra que a gente gostasse, pra que a gente se sentisse feliz. Falou num tom muito sério e depois saiu correndo.
O homem foi embora, pensando que aquele menino era doido, pensando em todas as asneiras que ele tinha dito e reparando como estavam amarelos os girassóis naquela primavera.

quinta-feira, 1 de março de 2012

À Clarisse Lispector

Então, como estou totalmente ausente, achei um post de minha autoria, antigo, em outro blog, e resolvi postar aqui, só pra falar que eu ainda faço parte dessa nata literária que é o De boa na ADG! :)



CDF como sou, peguei a obra mais marcante de Machado de Assis (Obviamente, me refiro a Dom Casmurro) para dar uma lidinha básica ;x Eis que tive uma surpresa: Embora no princípio eu estivesse lendo só por motivo de força maior (leia-se: vestibular) eu acabei gostando. Na real, não foi tanta surpresa assim, já que bons leitores geralmente apreciam grandes obras. O fato é que após seu primeiro beijo com Capitu, Bentinho fica refletindo sobre, e acabou me fazendo refletir também: “Talvez abuso um pouco das reminiscências osculares; mas a saudade é isto mesmo; é o passar e repassar das memórias antigas”. É exatamente assim que a saudade se faz presente. Repassamos a mesma cena, as mesmas palavras, os mesmos sorrisos e até mesmo algumas lágrimas milhões e milhões de vezes. A questão é: Até onde isto é saudável? Até onde devemos passar e repassar cenas anteriormente vivenciadas?

As lembranças muitas vezes são o “convívio social” do solitário ou de quem se faz solitário temporariamente. E em pensamentos solidários (Não, eu não troquei o t pelo d. Eu realmente quis dizer solidário ;p) acabo achando que ao menos temos boas lembranças do que passou. Ao menos isso. E aí passamos de solitários para auto-solidários (manda a nova ortografia se foder u.u), tentando justificar a nossa solidão e nossa necessidade de lembrar do que já não existe. Mas se refletirmos só um pouquinho sobre, veremos que essa auto-solidarização é mórbida! Essa necessidade de fechar os olhos e voltar no tempo, algo que nunca será possível, algo que jamais se concretizará..isso é doentio!
Com tais pensamentos, concluo: Saudade é diferente de masoquismo. Saudade te faz sorrir, te impulsiona para um futuro possivelmente melhor que o passado (por mais excepcional que este tenha sido). Masoquismo é moer e remoer, deixar toda sua vida se extinguir, se apegando apenas aquele fiozinho de felicidade. É deixar tudo de lado, sem querer ver o que o futuro trará. Eu confesso que muitas vezes passo por esse ciclo. Solidão, solidariedade...mas no fim eu sempre me obrigo a sorrir.
Eu sempre penso em como “Carpe Diem” faz sentido(Cá estou eu novamente fazendo alusão aos nossos recursos literários)! Mas quantas pessoas levam a tão famosa frase a sério? Quantas pessoas acordam pensando que são felizes somente por que acordam?
Você faz isso? Eu faço isso? Não sei. Mas deveríamos fazer.


P.S: Pra quem não entendeu o título, eu me referia à característica mais marcante de Clarisse Lispector: Fluxo de Pensamentos! J

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Stargazer

É a hora da despedida. Eu me recuso a aceitar a realidade. Não quero voltar à vida real, aos meus problemas, aflições e frustrações... Não quero sentir a pressão sem ter você pra segurar minha mão, me abraçar e me dizer que tudo vai dar certo, que eu só preciso acreditar.
Uma lágrima desliza sobre minha face corada, e desce até a boca, o gosto salgado me lembra novamente que não poderemos nos ver tão cedo. Não temos tempo. Temos obrigações a cumprir, e não dá tempo. E mesmo quando temos tempo, ele é curto, e sempre tem alguma outra coisa a se fazer.
Queria voltar àquele dia, àquele vestido roxo, com você de terno, e ao invés de irmos pra casa, iríamos à praia, ver o nascer do sol, e nos aproveitar.
Eu achava que tinha todo o tempo do mundo, e quando estou com você, realmente parece que o tenho, mas na verdade, ele está passando rápido demais: mal nos encontramos e já é a hora do "Adeus.". Sinto que poderia aproveitar melhor nosso tempo, talvez assim não ficaria tão triste e não enrolaria tanto à hora da despedida.
Já estou acostumada aos moldes do seu corpo, ao seu odor característico, e nada além disso me atrai. Sua beleza peculiar, seu caráter e sua índole, tão raros. Poderia falar por horas o quanto já me ajudou e tem me ajudado. Minha maior sorte foi ter decidido ir visitar, há mais ou menos um ano atrás, um dos melhores lugares do mundo. E assim, ter lhe conhecido.
E hoje, tudo o que quero é fugir com você pra qualquer lugar, esquecer todos os problemas... Eu aprenderia a cozinhar enquanto você tocaria nossas músicas preferidas. Nos dias de sol, deitaríamos ao léo contando histórias até anoitecer. Nos beijaríamos ao pôr-do-sol, e já escuro, contemplaríamos estrelas, identificando constelações e caçando estrelas cadentes...
Nesse nosso cantinho, amigos seriam sempre bem-vindos. Família também.
Esse paraíso seria a nossa Pasárgada.
E mesmo que morássemos em um apartamento quarto-e-sala no meio de uma cidade cinza, ainda teríamos Pasárgada, pois ela está conosco enquanto estivermos juntos, ela não precisa ser real, precisa apenas existir para nós dois.

"You tell me love,
Tell me where the stars sleep
Tell me why your eyes weep.
I really want to know."

domingo, 11 de setembro de 2011

Biscoitos ou não, aqui estou eu


Oi gentem (alguém aí?). Então, eu simplesmente estou com uma saudade enorme de vir aqui falar asneiras, sabe? E agora provavelmente eu deveria dizer algo como "Esses dias eu estava pensando e me surgiu uma ideia maluca" ou "eu vim falar sobre um assunto 'X' que tem se mostrado bastante interessante" ou qualquer outro começo lógico e aceitável que justifique a minha "visita" mas na verdade toda justificativa seria inválida pois de fato o mais legal da minha visita é que ela não tem motivos.
Sabe, quando eu era criança eu tinha uma mania engraçada de fazer visitinhas. Simplesmente quando voltando da aula eu resolvia passar na casa de uma pessoa 'X' (geralmente essas pessoas eram as mais estranhas e as últimas que você pensaria em visitar) e aparecer na porta alegremente dizendo "Oi, eu vim fazer uma visitinha!". Como eu era uma criança fofa ninguém nunca me expulsou, e na verdade muitas vezes eu ganhava bombons, ou amoras, ou broinhas (adoro broa!). Entretanto como hoje em dia eu já não sou mais uma criança fofa e muito provavelmente ganharia olhares de desagrado e incompreensão ao em vez de broas, amoras e bombons caso resolvesse aparecer na casa de alguém sem nenhuma ideia (quando será que eu vou me conformar com o fato de que essa palavra não tem mais assento?)maluca ou assunto interessante, eu resolvi vir fazer uma visitinha aqui no blog!
Mas na verdade agora que eu estou aqui sentada na frente do computador me surgiu uma vontade incontrolável e inexplicável que começou lá no fundo do meu pâncreas (créticos a Hara por essa coisa toda de pâncreas) e foi subindo e se alastrando por todas as partes do meu corpo de falar sobre... biscoitos. Os biscoitos, se você analisar bem, apresentam características bastante interessantes e peculiares. Por exemplo, você já parou para pensar que os biscoitos unem as pessoas? Afinal não existiriam os chá's com os amigos nas tardes ensolaradas de domingo sem a presença de alguns biscoitos, não é mesmo? Além de unir as pessoas os biscoitos também incentivam o contato com a natureza, o que levaríamos para pic nics na cachoeira ou no alto da serra ou de baixo daquela castanheira (ficadica: isso nem sempre é uma boa ideia pois além da sombra ótima em baixo das castanheiras também habitam alguns espinhos maléficos) se não existissem os biscoitos? Como é que poderíamos puxar conversa com o gatinho se não fosse para dizer "Esses dias eu abri um pacote de biscoito (olha ele aí) Maizena e o biscoito (de novo) estava virado para cima!"? (Já reparou que quando você abre um pacote de biscoitos Maizena eles nunca estão virados de cabeça para cima?). O que podemos concluir de tudo isso é:

1- Os biscoitos unem as pessoas, possibilitam contato com a natureza e constroem histórias de amor
2 - A vida das pessoas seria realmente muito pior sem os biscoitos (a minha em especial sem um biscoito em especial praticamente não existiria) (acredite se quiser isso foi uma declaração de amor).
3- Acho que a Bauducco gostaria bastante de mim
4 - Eu realmente não tenho NADA para fazer nessa tarde nublada de domingo.
5- Apesar de ter dado meio certo comigo você provavelmente vai espantar qualquer gatinho com esse papo de Maizenas para cima ou para baixo
6-Acho que é melhor eu me retirar antes que os últimos e resistentes leitores desse blog nos denunciem por abusar da falta do que fazer ou sei lá o que.

Beijos gentem, até as próxima e muitos biscoitos para vocês!

PS: É expressamente proibido qualquer comentário da natureza "Sim, os biscoitos são lindos mas engordam"

Fotas...


Eles provavelmente tem uns biscoitos aí

Receita: Uma xícara de chá com biscoitos

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Fragille Bird

Frágil.
Como um pássaro que caiu do ninho.
Perdido.
A Terra é dura e inefável,
ao contrário do ninho.
Agora que a vida começou,
Agora que a redoma que me protegia
foi quebrada.
A vida mal começou
e já está a me alfinetar:
Aquele sonho que vivias acabou.
Acorda!

domingo, 21 de agosto de 2011

Legado perdido.

Em um dia de férias do trabalho, ele tirou a tarde para si, parou em um buteco em Botafogo e comprou uma cerveja. Em frente ao bar havia um campo de futebol, onde crianças jogavam, crianças de no máximo 7 anos. A idade de seu filho, ou pelo menos, que seu filho teria. Ele observava as crianças, vendo-as felizes com uma bola nos pés, correndo de um lado pro outro: o jogo ainda não havia começado.
Será que seu filho era um deles? Será que um dia saberia como ele é? Ele teria os olhos verde-mel da mãe ou cinza como o seu? Cabelos escuros como a noite ou castanhos claros herdados dele? E se ele fosse parecido apenas com a mãe? Ele considerava cada hipótese. Nesses sete anos ele pensava todos os dias sobre a aparência dele, sobre seu temperamento, seus gostos... Queria ter algo a que se segurar, alguma imagem, informação...
Mas não. Ele não tinha nada. Ele era o gerente de um ótimo banco, um emprego perfeito. Um homem bem-sucedido e triste. Como muitos e muitos outros. Fechado, mal falava com os colegas sobre si. Era um homem engraçado, todos o adoravam, mas ninguém o conhecia. Ninguém sabia que o amor da sua vida sumiu, grávida de seu filho há sete anos atrás. Que ela simplesmente desapareceu, sem deixar um bilhete, sem nenhum vestígio.
E ele estava procurando esse vestígio até aquele dia, do barzinho, dos meninos jogando futebol... E observando aquelas crianças, ansiando por um deles ser seu filho e ao sair do treino chegará para abraçá-lo e  contará como foi seu dia. Mas isso não acontece, nenhum deles é seu filho. Ele não tem um filho.

Where I'd like to be.

Bom, eu nunca posto textos curtos, mas acho que seria legal começar... Colocar só uns drops, já que estou sem tempo pra escrever de verdade, e sem tempo pra desenvolver ideias pra isso...
Sinto saudades desse dia, da sensação de liberdade que dá sentir o vento no rosto ao galopar, passeando por um cenário digno de pertencer ao "O Senhor dos Anéis", esquecer um pouco dos problemas da vida de vestibulanda, esquecer de problemas em geral... Só sentir o balanço do cavalo, conversar com seus amigos durante a viagem, rir, aproveitar a paisagem verde que raramente vejo agora...
É o preço que pagamos por escolher viver na cidade. Embora eu viva aqui, é no mato que meu coração está, e sei que é pra lá que posso ir quando quiser. Seja para descansar, para esquecer, ou para lembrar. É sempre lá que eu quero estar.

-Lita

domingo, 14 de agosto de 2011

Música




Morava numa cidade pequena, numa rua sossegada, numa casa bem grande. Mas dizer que morava soa até engraçado, dizer que morava dá ideia de lar, coisa que aquele casarão nunca fora. Era mesmo um lugar onde o menino aprendera a viver, sua mãe trabalhava ali desde que se sabia gente. E o menino ficava a seu lado, não porque quisesse, sua mãe o amava a sua maneira, calada e carrancuda, maneira de amar essa que o fizera chorar muitas vezes quando criança. Hoje porém o menino já era rapaz, praticamente homem feito e essa maneira de amar, as avessas, só trazia desprezo. Ficava alí porque precisava, porque não tinha pra onde ir, não tinha porque ir. Muitas vezes pensou em ir embora, mas faltava coragem, ou talvez faltasse vontade... a bem da verdade seu motivo era mais que uma falta, era mesmo uma presença, aquela tal música. Às vezes um piano, outras um trompete ou talvez uma flauta.Era uma música que vinha ele não sabia da onde, só sabia que às vezes, no fim da tarde enquanto cuidava do jardim ou varria alguma calçada, ela vinha descendo, lá do alto da rua e lhe chegava aos ouvidos. Aquela melodia. Trazia cheiros, imagens e o rapaz sentia saudade de um passado que não vivera.
Depois ia embora, levava com ela aquele mundo, aquela vida saudosa e sem identidade que só a música parecia conhecer. E o rapaz continuava o seu trabalho, e se trancava novamente em sua revolta, em sua raiva do destino que o fizera um empregado, praticamente mordomo, sem direito de falar ou querer, com raiva de sua mãe, que seguia submissa, e das pessoas que pareciam não notá-lo. Observava-as passarem na rua, elegantes, cheias de si, rumo aos seus casarões, sempre nariz empinado.
E havia aquele homem, sempre aquele homem, que passava de preto carregando seus papéis com ar de importância. O rapaz não sabia o que era, mas alguma coisa na insignificância com a qual aquele homem olhava para ele o incomodava em especial. As dores pesavam, as angustias e revoltas se acumulavam e ele tinha vontade de fugir, não importava pra onde, fugir dalí, daquele lugar, daquela vida, daquele destino... mas logo a tarde caia e a música chegava, serena, parecendo adivinhar suas dores. Calava sua lamurias, secava suas lagrimas, tirava-lhe o peso e ia embora. E como que com as baterias recarregadas ele continuava seguindo, apenas esperando, esperando que voltasse sua música.
Mas naquele dia ela não voltou. Naquele dia, como que por luto, o céu amanheceu cinza e as flores, pálidas. O que os olhos do rapaz viram o coração não comportou. Sua mãe, jogada no chão, olhar vazio e conformado, uma única lágrima rebelde contornando-lhe o rosto. E o patrão, apressado e desajeitado fechando as calças e arrumando os cabelos. Saiu e sequer olhou para trás.
O rapaz correu, sangue nos olhos, o facão que usava contra as ervas daninhas do jardim ainda na mão. Não foi ajudar a mãe, nem tampouco se vingar do patrão. Correu para rua, sem rumo, para longe, longe daquele lugar ao qual nunca pertenceu, onde ficou tanto tempo com medo de não pertencer a lugar nenhum, correu sem destino. Correu e trombou. Trombou com um homem. Não um homem, aquele homem, que passava de preto, sempre o mesmo olhar de insignificância, cruzando a rua como se não pertencesse ao mundo e nem se importasse com ele. O rapaz não pensou, tomado pela raiva e pela dor, apenas agiu, apertou o facão com as mão trêmulas e matou. Matou aquele homem... matou aquele olhar.... matou aquele ar de importância. E talvez o rapaz nunca soubesse que naquele momento de ódio e rancor, sem sequer suspeitar, matou seu consolo. Matou sua música.