Tentei me defender de todas as maneiras, me armei com todas as armas e reforcei meus escudos, mas ela não lutou. Desviou-se de cada arma, achou passagem em cada escudo, arrancou-me a mascara, olhou nos meus olhos e foi entrando nas pontas dos pés.
Tratou de dar jeito na desordem, colocou tudo em seu devido lugar, o que já não servia jogou fora, o que estava quebrado consertou e depois de todas as feridas curadas abriu a janela deixando o sol entrar.
Não sei dizer quanto tempo ela ficou. É que deixei de me importar com os números, deixei de me importar com o tempo... só sei que um dia vi-la definhar a cair fraca no chão. Desesperado quis pegar nas armas, quaisquer que fossem, e lutar. Mas ela me disse num tom sério que já era hora, que agora seria espuma do mar. Virou-se para o lado, como quem sugere um cochilo e fechou lentamente seus doces olhos.
Novamente abriram-se as feridas, o fracasso voltou com suas malas carregadas com as tristezas, com as angústia reviveu a desordem e fechou minha janela.
Por muito tempo voltei a ser aquele fugitivo mascarado, voltei a minha rotina calculista e pensei que jamais veria o sol novamente.
Porém existia um cantinho que havia ficado marcado pela passagem dela e um dia, depois de muito relutar, fechei meus olhos e fui para lá, afastando a tristeza, afastando a angústia e cheguei onde algumas flores tímidas cresciam... me flagrei lembrando daqueles tempos felizes e percebi que lá fora um vento repleto de maresia forçava a janela.
Pensei que talvez devesse abri-la.
"Quando o sol bater
Na janela do teu quarto
Lembra e vê
Que o caminho é um só..."
Renato Russo
Lindo, sem mais.
ResponderExcluirIsso ficou sensacional. Nem consigo dizer muito o que senti, de tão impactante que foi ler esse texto...
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