domingo, 3 de abril de 2011

Flores não pagam contas


Quando criança, desejava cultivar flores, mas crescera aprendendo que essa não era uma idéia prática. Na escola vira muitos números, aprendera a resolver as mais diversas equações, mas nunca nada sobre o cultivo das flores. Com todos os seus números se formou, e começou a trabalhar no que não gostava para ganhar dinheiro e gastar no que não precisava.
Se mantinha bem informado e assistia todos os dias ao noticiário, ouvia as notícias sobre a falta de água, sobre as pessoas que matavam por não ter o que fazer, as que roubavam por não ter o que comer e as que morriam por não ter onde viver. Paciente armazenava todas essas tristes realidades em alguma gaveta do seu cérebro e esperava, com um pontinho de esperança, alguma notícia sobre as flores.
No escritório concentrava-se em seus números, com a cortina sempre fechada (pois o sol atualmente era um inimigo em potencial com todos os seus raios UVB e UVA) e o ventilador ligado (o único vento no rosto que podia ter). Seguia com sua rotina estável e sua vida “confortável”. Comemorava sorrindo com falsa alegria todas as vezes que trinta e um de dezembro virava primeiro de janeiro sabendo em seu íntimo que novo naquele ano seria só o nome e alguns números. E de fato tudo permanecia igual. As vezes se desesperava e chorava pensando que já era hora de mudar tudo aquilo, mas logo as contas chegavam... as flores não pagam contas, era preciso preocupar-se com futuro.
De preocupar-se com o futuro logo o viu chegar, e já aposentado pensou com saudade em suas flores, mas velho como estava? Era melhor deixar as flores e as idéias sonhadoras para os jovens, para ele restavam os “confortos” da vida que cultivou e o noticiário, que havia se tornado seu companheiro fiel e agora só falava na tal da sustentabilidade, tão longe havia chegado os homens com seus números.

"Somos feitos de carne mas temos que viver como se fôssemos de ferro" Freud

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